terça-feira, 21 de abril de 2009

Correspondentes do bem

Correspondentes: lições de amor em cartas


Por meio da troca de correspondências entre adultos voluntários e crianças e adolescentes carentes, o projeto estimula o desenvolvimento da escrita e o contato com sentimentos e histórias de vida


Escrever faz bem à cabeça e ao coração. Colocar palavras no papel é uma boa forma de organizar idéias, traduzir sentimentos, desabafar. Mais do que os benefícios de escrever um diário, trocar cartas com alguém em quem se confia ajuda os correspondentes a aprenderem com as experiências um do outro, a falarem de suas vidas e até a descobrirem certas coisas que não sabiam sobre si mesmos.

Com a intenção de estimular esse processo de autoconhecimento e auxiliar crianças e adolescentes carentes a recontarem a própria história e até a re-significarem sua relação com os adultos, é que surgiu o projeto Correspondentes, do InPróS – Instituto de Projetos Sociais, em 2004.

Por intermediação de psicólogas, voluntários acima de 25 anos podem se corresponder com crianças e adolescentes – de 6 a 18 anos – que moram em abrigos ou freqüentam núcleos sócio-educativos e se interessam pelo projeto.

Muriel Matalon, presidente do InPróS, explica que escolheu trabalhar com esse público pelo alto grau de vulnerabilidade social a que estão submetidos. Quem mora em abrigos, por exemplo, foi retirado da família por juízes da Vara da Infância e da Juventude por motivos que envolvem maus-tratos, violência física, abuso sexual, negligência, abandono ou completa falta de condições financeiras. Mesmo as crianças e jovens de até 14 anos que freqüentam os núcleos sócio-educativos em horário complementar ao da escola e moram com os pais ou responsáveis, pertencem a contextos sociais bastante delicados.

A troca de cartas entre um voluntário e uma criança ou adolescente acontece durante um ano, pelo menos a cada 20 dias. Com o tempo, vai-se construindo um vínculo de amizade, carinho e cuidado entre eles. O conteúdo das correspondências é livre e bastante variado: as crianças fazem perguntas e dividem alegrias e tristezas relacionadas aos familiares, à escola e aos amigos, os adolescentes também falam de namoros e de futuro e os voluntários, muitas vezes, curam antigas feridas ao acompanharem relatos de histórias semelhantes. Independentemente de quem está de um lado e do outro do papel, são dois mundos bem diferentes que se visitam e se misturam via correio.

Também é idéia do projeto impulsionar o desenvolvimento da leitura, escrita, interpretação e elaboração de pensamentos. Muitos dos meninos e meninas que participam do projeto não tiveram acesso a uma alfabetização consistente e têm muita dificuldade de se expressar por meio de palavras. As cartas se tornam um grande estímulo para que eles desenvolvam essa habilidade. Pode ser que, no começo, o voluntário precise fazer uso de desenhos, pinturas, dobraduras, colagens e outros artifícios para se fazer entender e alcançar o universo de seu correspondente.

Atualmente, 1.560 pessoas – metade de crianças e adolescentes e metade de voluntários – participam do projeto e mais de 11 mil cartas já passaram pelo instituto nesses quase quatro anos de existência do Correspondentes do Bem.
Apesar de haver voluntários de todo o Brasil e até de Portugal, por enquanto, os 28 abrigos e 3 núcleos sócio-educativos participantes estão localizados, principalmente, na cidade de São Paulo, havendo apenas um em Santos e um, em processo de credenciamento, em Brasília.

COMO FUNCIONA

Uma equipe do InPrós identifica os abrigos e núcleos que desejam participar do projeto e realiza uma oficina de sensibilização com os educadores das instituições e os jovens correspondentes.

A criança ou adolescente escreve a primeira carta – muitas vezes com a ajuda dos educadores do abrigo –, que é enviada à sede do projeto, onde passa por leitura sigilosa, realizada por uma psicóloga. Em seguida, a carta é encaminhada a um voluntário, que deve respondê-la em até 20 dias, também endereçando a resposta ao instituto.

Voluntários e correspondentes não podem manter nenhum outro contato, a não ser por meio das cartas, portanto, não lhes é permitido trocar endereços, telefones, e-mails, orkuts etc. Todas as cartas, invariavelmente, são lidas por uma psicóloga encarregada de evitar que conteúdos inadequados cheguem até os jovens e de acompanhar o vínculo que se forma entre o adulto e seu correspondente, orientando no que for preciso.

É permitido enviar fotos – que facilitam a formação da imagem do voluntário na cabeça das crianças – e presentear os correspondentes. Neste caso, os voluntários são incentivados a enviar livros, revistas, lápis, canetinhas, cadernos e outros artigos que os ajudem em seu processo de linguagem e escrita.

A troca de correspondências acontece pelo período de um ano e se for da vontade tanto da criança quanto do voluntário, pode continuar por mais seis meses e assim por diante. Quando um dos dois decide não se corresponder mais, a criança e o voluntário escrevem duas cartas finais para se despedirem sem traumas.

O instituto conta com profissionais especializados para esclarecer dúvidas e orientar situações em que haja alguma dificuldade, seja para os jovens, para os educadores das instituições ou para os voluntários. Com os abrigos e núcleos, são feitos contatos quinzenais por telefone e reuniões mensais de modo que o projeto seja avaliado em conjunto.

Para se tornar um voluntário do Correspondentes, é necessário entrar em contato com a Central de Atendimento do projeto, ler o Manual do Voluntário e preencher e assinar um questionário/termo de compromisso, que passa por avaliação do instituto. Depois de aprovado pelo projeto, é só aguardar a primeira cartinha.
A sede do InPróS fica em São Paulo.Rua Marquês de Itu, 837, cj. 61
Telefones: (11) 3257-0811 e (11) 3278-4178
E-mails:
Geral - correspondentes@inpros.org.br
Voluntários interessados - voluntario@inpros.org.br
Abrigos e Núcleos que quiserem participar - instituicao@inpros.org.br
Leia também: Cartas do bem

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